sábado, 4 de setembro de 2010

" - Ual, que graça!" - pensamento que dá versinho bobo!

Quero a graça,
Quero a ânsia,
Quero a farsa,
E a importância.
Quero a fome
E a sede de homem,
Esse tudo que não tem nome
E que meu corpo clama
E que teu corpo traz
Pra me negar a paz
E me dizer que é chama...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lado a lado, não tão na boa. (I)

Toca o celular, num Quiosque barulhento.
- Alô.
- Hallo, Laura?
- Hallo! Peter? wie geht's?
- Mir geht es gut...
- Peter, ich kann dich nicht hören!
- La... - e foi a ultima coisa que ela conseguiu ouvir.
"Ele deve ligar mais tarde"
- Um coquetel de frutas, por favor. - Apoiada no balcão do lugar, esperando pela bebida, com uma tranquilidade quase celestial.
- Oi.
- Olá. - disse olhando ao estranho e voltando a sua antiga posição.
- Tudo bem?
- Muito bem, obrigada.
- Você é de São Paulo, certo?
- Sim. - com um sorriso amigável.
- Você é Laura, não é?
- Sim! - de um espanto verdadeiro - Eu te conheço?
- Não! Meu amigo te conhece. Estamos naquela mesa.
- Ah, ele é seu amigo...
- Sim, venha, junte-se a nós. Aposto que ele vai gostar de te ver.
- Obrigada, já tenho uma mesa, para a qual, por sinal, já estou voltando. - seca, como parecia impossível ser.
- Venha, então, cumprimentá-lo, sente um pouco com a gente.
- Desculpe, mas da ultima vez ficou bem claro a distância que ele queria de mim, e acredite, não é a de uma mesa.
- Imagina! Aposto que ele iria gostar se você...
- Se depender da minha iniciativa, volto pra São Paulo sem saber, ao menos, se ele ainda vive.
- Não sabia que você o odiava.
- Não o odeio, eu só não mereço. E... Com licença, minha bebida está pronta. - estava atônita, estava angustiada. Sabia que poderia encontrá-lo, afinal, voltara para aquela cidade, a dele... "Já se foram 3... 4 anos, ele nem deve morar mais lá." Mas ela sabia, lá no fundo, que aquela possibilidade existia; sabia que seria difícil encontrá-lo, mas que poderia; sabia de tudo isso, mas ela adorava aquele mar, aquela praia, aquele quiosque, aquele coquetel de frutas... e já fazia 3 ou 4 anos que não sentia mais aquela brisa, aquela areia quentinha, aquele sabor de praia do coquetel... O sabor dele. Mas não esperava vê-lo, tendo em vista a quantidade de turistas que viajavam pra lá a cada feriado, e muito menos que o avistaria logo no primeiro dia lá.
Sentou-se na mesa com um velha amiga de colégio, que a notou diferente.
- Que foi?
- Amigo dele.
- Dele quem?
- Do Marcel.
- Ah, sério? E queria o que?
- Me chamou pra sentar com eles.
- Mas é um moleque, mesmo, depois de todo esse tempo...
- Eu não acho mesmo que ele tenha pedido por isso, mas enfim.
- E como você tá?
- Sei lá. - E sentiu uma mão no ombro.
- Oi.
Ela olhou pra cima em silêncio, olhando bem nos olhos dele por alguns segundos: incrédula, emocionada, com raiva, com desprezo, com mágoa.
- Oi.
- A gente pode conversar?
Pensou várias vezes antes de responder, pensou várias vezes em poucos segundos e, por mais que quisesse ignorá-lo, não podia. Chamava de educação, umas pessoas chamariam de fraqueza, outras de falta de amor... Eu chamaria de acerto de contas.
- Claro. Ana, tudo bem?
- Claro, quando voltar me liga, caso eu não esteja mais aqui.
- Já sabe, caso eu não volte...
- Já sei, fica tranquila.
- Ok. Vamos.
Saíram. Ela na frente, e ele ao lado, um passo atrás. Sua feição preocupada denotava o medo que, aparentemente deveria estar sentido do que ela poderia falar. A conhecia e sabia do talento com as palavras duras. No entanto, o silencio que vinha dela era incomodo, constrangedor. Andaram por cerca de quinze minutos pela areia; o fim da tarde se anunciava com o alaranjado da luz do Sol, pousando sobre as águas. Chegaram num ponto mais vazio da praia, Laura sentou, bem próxima ao mar, e ficou observando o gigante azul brilhar, gritar, a beijar a areia.
- Você não vai falar?
- Estava esperando seu aval.
- concedido.
Ele riu, e se lembrou do bom humor que ela tinha, embora ela não estivesse brincando.
- E como você está?
- Andando, comendo, falando, trabalhando, estudando, viajando, lendo. O de sempre.
- Você vai responder assim?
- Qual o problema com a resposta?
- Esqueça. Por onde esteve?
- Passei os últimos dois anos na Alemanha.
- Fazendo?
- Fui estudar.
- E se acostumou com a frieza alemã? - rindo, como quem fala com um amigo que não vê há algum tempo.
- Acostumei com ela antes de partir. Não foi novidade nenhuma.
- Hostil.
- O que você quer?
- Falar com você, sei lá, faz anos que eu não te vejo, que eu não tenho noticias... E de repente você aparece, eu quis conversar.
- Pra que?
- Pensei que depois de tanto tempo você tivesse abandonado essa história.
- Hum. - ela sempre começava frases desapontadas com "hum" de riso - Fiz o que você pediu. Deixei de lado, e segui a minha vida.
- Não parece. Olha como você...
- Como eu falo com você? Não sabia que havia uma cláusula "te abandono, te ignoro, te mando embora da minha vida, me esqueça e PS: quando voltar, finja que tudo foi bem"
- Você sabe que não dava mais.
- Você poderia ter me avisado, antes de me chutar pra escanteio e em deixar saber sozinha. "Alô, Marcel, que há? Estou com saudades. Estou pensando em voltar no final de semana" - "Me esquece, acho que é melhor você seguir a sua vida sem mim, estou seguindo sem você. Não volte. Fique e permaneça bem." Fiquei e permaneci. E agora, o que você quer de mim? Que eu diga "Oi, ex-, tudo bem? como estou feliz em te ver? Depois que você me deixou por telefone eu voltei pra te perdoar e fingir que nada aconteceu!"
- E por que você voltou? Não havia mais cidades litorâneas no Brasil pras suas "férias"? Lala...
- Prefiro que me chamem de Laura há algum tempo.
- Laura, eu só quero estabelecer a paz.
- E há guerra?
- Eu achei que... Talvez você pudesse ter me perdoado, eu era mais jovem. Eu me arrependi de ter feito assim. Às vezes eu sinto certa culpa...
- Certa culpa?
- Você nunca vai me perdoar, não é?
- Nunca.