terça-feira, 17 de julho de 2012

"E eu te recriei, só pro meu prazer..."

Eu não mudaria nada em você, já que você tem a pupila necessária pra me fazer ficar.

Eu não mudaria nada em você, já que você tem simetria: minha confusão e minha certeza.

Eu não mudaria nada em você, já que você não me tem, com uma certeza absoluta.

Eu não mudaria nada em você, já que você não acredita em certezas.

Eu não mudaria nada em você, já que você deixa meu corpo num bicolor lindo: a sua pele sobre a minha.

Eu não mudaria nada em você, já que você deixa meu mundo em tons de cinza, mas sem fronteiras, sem as fronteiras do bicolor.

Eu não mudaria nada em você, porque você tem esse jeito de calar a vida, e quando a deixa entrar, por um descuido qualquer, enquanto tenta manter-se incólume a qualquer coisa que possa te tocar, você radia, discreto, sem perturbar a alvorada.

Eu não mudaria nada em você, porque você tem o coração partido, a cabeça perturbada, a guarda alta, e a presença insultante. E porque, quando eu não quero gostar disso, eu me lembro que você não me culpa, não me julga, não me limita.

Eu não mudaria nada em você, porque eu não sou sua mãe, nem sua irmã, nem amiga sua. Nem sua babá, nem sua analista, nem sua médica. Porque todas já estão em seu devido lugar, e eu não reinventaria o meu.

E eu não mudaria você, porque eu não posso ficar, nem te ser simétrica ou não me dar. Nem ser bicolor, ou tons de cinza, ou sem fronteiras. Nem ver sua auto-alvorada, nem aceitar sua indulgência ou o meu lugar na terceira classe.

Eu não mudaria nada em você, porque eu nos escolhi assim.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Eu tô ficando velha, eu tô ficando louca"

Você tem uma presença dominadora e um olhar manso: duas coisas que não combinam muito bem. Deixo o olhar manso por minha conta, porque eu sempre revejo esses olhares, acho que porque eu gosto de olhares mansos e defino, assim, o que é indefinido. Esse olhar manso é o mesmo olhar de todos os homens da minha vida, quero dizer, de todos os homens que eu adimiro, seja por um caráter avassalador, ou por uma postura pouco iludida em face da vida.

Eu olho bem o que você é, aos meus olhos, e o que você é, aos seus, e gosto mais da minha versão. De todas as ilusões, só não refuto as imaginadas por mim - uma mulher precisa de pequenas alegrias, e, parte das minhas é constituida por fantasiar caráters inexistentes; posturas encendiárias; ocultismo; complexidade, onde só há frivolidade e... profundidade.

E eu gosto de te imaginar dominando um espírito livre, como eu. E eu gosto de me imaginar dominando um espirito livre, como você, ainda que sabendo que nenhum de nós é derveras livre. E eu gosto de te imaginar fora das minhas neuroses, e de me imaginar fora das suas. De você, quero a mente livre. De mim, o corpo. E de mentes, e corpos livres, ai sim, dois espíritos em plenitude.

E assim, de imaginação, em imaginação, estamos em face de algo belo, e eu prefiro o belo, em contraposição à beleza. Não há vida sem o belo, e não há o belo sem as vicissitudes da vida. Coloco-te, assim, no meu pedestal de perfeição, à esquerda dos que vieram antes de ti, à direita dos que virão, e perfeitamente acomodado entre as prateleiras "experiência" e "dignidade".

Torno-te o exemplo do pragmatismo com que me conduzo, e me orgulho de ser bem sucedida também nisso. E diante do que 'eu' significa, conheço o real sentido de perfeição, e você, e o anterior a você, e o anterior ao anterior a você se tornam parte da perfeição.