sábado, 20 de novembro de 2010

Uma menina (abril/2009)

Havia em uma certa época uma garotinha de longos cabelos negros, que lhe davam uma aparência selvagem, de lindos olhos negros que lhe davam uma aparência secular, porque embora a menina tivesse pouca idade, detinha uma grandeza latente.
Sua casa era uma casa, seus pais eram pais, sua vida era uma vida, mas ela, ela não era só uma menina. Seu sonho não era só um sonho, seu amor não era só amor, sua palavra não era só palavra. Tudo em si resplandecia, porque ela era uma menina, mas não só uma menina.
o seu pai, que era um pai, dizia-lhe:
- Cuidado!Meninas devem ser meninas, assim como árvores devem ser árvores, e noites, noites e dias, dias.
-Árvores, dias e noites não são só árvores dias e noites, porque árvores são um conjunto de folhas, raízes, água e pássaros. Noites são estrelas, lua, escuridão e silêncio, e dia é claridade, Sol, calor e céu azul. Então, porque uma menina tem que ser só uma menina?
Mas a menina nunca havia saído do seu vilarejo, em que árvores, dias, noites e meninas formavam um sistema, até que um dia, em meio a esses conselhos, ela decidiu ir até a cidade mais próxima e descobrir porque meninas deviam ser apenas meninas.
Ela caminhou durante algumas horas, chegou à uma grande cidade e e começou a observar tudo ao seu redor à procura das árvores, do dia e da noite.
- mas onde estão as árvores?
Olhou mais atentamente e viu que estava sobre elas. olhou para seus pés e ao redor de si e viu o assoalho, as cadeiras e vários outros objetos. Então decidiu observar o dia.
- mas por que o dia parece mais escuro? Por que o céu é cinza? Por que o calor é tão estranho?
Já triste, a menina esperou a noite chegar, faltava vê-la.
- Mas por que está tão barulhento? Por que está claro? Onde estão as outras estrelas?
A menina chorou pelas árvores, pelo dia e pela noite e chorando adormeceu. No outro dia voltou para casa. Seu pai, preocupado, perguntou-lhe o que acontecera e ela lhe disse:
- Quero ser só uma menina porque os homens são assim. Só uma menina para que não me arranquem as raízes, não podem os meus galhos, não esmaguem os meus frutos, mão derrubem os meus ninhos e não me matem como fizeram com as árvores.
apenas uma menina para que não tornem os meus dias mais escuros, o meu céu mais cinza e pesado, o meu ar mais denso e minha pele desconfortável, como tornaram o dia.
Apenas uma menina para que não me roubem o direito a voz e ao silêncio, o meu direito à escuridão e à sombra e o meu Norte, como roubaram da noite.
Apenas uma menina para que a vida não me tome de mim.
E a menina, pela primeira vez, quis ser apenas uma menina, mas não pôde.

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