terça-feira, 17 de julho de 2012

"E eu te recriei, só pro meu prazer..."

Eu não mudaria nada em você, já que você tem a pupila necessária pra me fazer ficar.

Eu não mudaria nada em você, já que você tem simetria: minha confusão e minha certeza.

Eu não mudaria nada em você, já que você não me tem, com uma certeza absoluta.

Eu não mudaria nada em você, já que você não acredita em certezas.

Eu não mudaria nada em você, já que você deixa meu corpo num bicolor lindo: a sua pele sobre a minha.

Eu não mudaria nada em você, já que você deixa meu mundo em tons de cinza, mas sem fronteiras, sem as fronteiras do bicolor.

Eu não mudaria nada em você, porque você tem esse jeito de calar a vida, e quando a deixa entrar, por um descuido qualquer, enquanto tenta manter-se incólume a qualquer coisa que possa te tocar, você radia, discreto, sem perturbar a alvorada.

Eu não mudaria nada em você, porque você tem o coração partido, a cabeça perturbada, a guarda alta, e a presença insultante. E porque, quando eu não quero gostar disso, eu me lembro que você não me culpa, não me julga, não me limita.

Eu não mudaria nada em você, porque eu não sou sua mãe, nem sua irmã, nem amiga sua. Nem sua babá, nem sua analista, nem sua médica. Porque todas já estão em seu devido lugar, e eu não reinventaria o meu.

E eu não mudaria você, porque eu não posso ficar, nem te ser simétrica ou não me dar. Nem ser bicolor, ou tons de cinza, ou sem fronteiras. Nem ver sua auto-alvorada, nem aceitar sua indulgência ou o meu lugar na terceira classe.

Eu não mudaria nada em você, porque eu nos escolhi assim.

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